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A filosofia platônica, um dos pilares do pensamento ocidental, dividia a realidade em duas grandes dimensões. Uma “terrena” e ligada ao corpo e outra funcionando como uma espécie de realidade “mais real”, que serve de modelo para tudo o que vemos, tocamos, instituímos, acessível somente pelo exercício do pensamento, ligada à alma. Essa separação do corpo e da alma serve, ainda hoje, de modelo para diferentes correntes de pensamento. São menos conhecidas as abordagens que consideram corpo e mente/alma uma existência coesa de um ser integral.  

A EXPERIÊNCIA QUE MOBILIZA O APRENDIZADO 

Muitas das dicotomias que orientam a cultura escolar no ocidente estão alicerçadas nesse preceito platônico: certo e errado, tempo livre e tempo ocupado, exercícios para mente e para o corpo considerados como coisas diferentes etc. Quando pesquisadores da educação começam a falar da necessidade de pensar integralmente os processos de educação dos sujeitos e, sobretudo, no que diz respeito aos jeitos únicos com que cada pessoa aprende, a superação de um modelo dividido que prendia o corpo para liberar a mente, passa a trazer para a centralidade das questões, não em quem ensina  versus quem aprende, mas as aprendizagens e os diversos caminhos por onde elas se constituem. Aceitar que os estudantes irão aprender mobilizados por sua experiência nos territórios onde vivem e estudam, com suas aptidões e dificuldades, com sua diferença, é propor que os caminhos sejam respeitados, avaliados e orientados.  

O EXEMPLO DAS ESCOLAS SESI 

Segundo o Centro de Referências em Educação Integral em sua página na internet: a Educação Integral é uma concepção que compreende que a educação deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões – intelectual, física, emocional, social e cultural e se constituir como projeto coletivo, compartilhado por crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e comunidades locais. Tem sido bastante comum ouvirmos de diferentes atores da sociedade ao se referirem ao Novo Ensino Médio, que a BNCC e a reforma trouxeram uma proposta de educação integral por determinar educação em tempo integral. É muito importante compreender que não é apenas disso que se trata. Toda abordagem de trabalho em educação, seja em que espaço e tempo ocorrer, pode levar em conta um processo integral de aprendizagem, possibilitando que as reflexões empreendidas por estudantes e professores passem por diferentes lentes de análise.  Na Escola SESI de Ensino Médio, por exemplo, no desejo de proporcionar processos de educação integral, temos promovido interações dos estudantes com o espaço escolar e a comunidade. Isso se expressa no desejo de fazer com que a escola inteira seja educadora: o prédio, a maneira como a comunicação acontece, a maneira como olhamos para as questões que o entorno nos apresenta, como propomos soluções, pesquisamos, caminhamos, brincamos, lemos, debatemos. Tudo isso desloca questões historicamente construídas no campo de trabalho em educação e convida a escola como instituição a se entender como ferramenta e agente de promoção de vida para as comunidades onde estão presentes. 

O que eu gostaria de provocar ao abrir este pequeno texto falando da questão platônica da caverna e da divisão entre corpo e mente, é a percepção de que a nossa cultura é, de modo geral, pensada a partir de uma perspectiva que prioriza a fragmentação binária do pensamento que é também ação, e que modificar este panorama é um trabalho que exige alterações firmes nas nossas maneiras de compreender os cenários e interagir neles. Pensar a educação numa perspectiva integral requer um empenho igualmente grande, pois nos desafia a compreender e educar considerando a complexidade da constituição humana.   

Autor: 

Jonas Camargo Eugênio 

segunda-feira, 8 de Novembro de 2021 - 15h15

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