Ampliar a visão dos estudantes sobre as oportunidades do setor industrial e promover o ambiente de trabalho no contexto de aprendizagem na formação de docentes: esse é o objetivo do Conectando Saberes, projeto desenvolvido pelo Sistema FIERGS, por meio do Instituto Sesi de Formação de Professores, em parceria com sindicatos industriais e escolas públicas. O projeto, que já conta com duas edições, recebeu o prêmio Top Cidadania 2024 da Associação Brasileira de Recursos Humanos - Seccional Rio Grande do Sul (ABRH-RS) na categoria organização e na modalidade comunidade. A primeira edição, premiada em cerimônia no Grêmio Náutico União em novembro, foi desenvolvida juntamente ao Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico e Eletrônico de São Leopoldo – Sindimetal-RS.
A iniciativa surgiu a partir da necessidade de conectar as práticas pedagógicas à realidade do setor industrial. Segundo a gerente de Educação do Sesi-RS, Sônia Bier, um dos pilares do projeto educacional do Sesi é conectar o jovem ao mundo do trabalho. “Existe um princípio básico na educação que é ampliar os ambientes de aprendizagem. O Conectando Saberes surgiu a partir desse princípio, observando a necessidade de promover o conhecimento dos jovens em relação às estruturas e dinâmicas que existem no mercado de trabalho", afirma. A partir disso, houve a criação de um processo de formação de professores e desenvolvimento de projetos dentro da metodologia do Sesi para que os alunos de escolas públicas da região, juntamente aos docentes, pudessem constituir projetos a partir de visitações às indústrias parceiras em São Leopoldo.
O presidente do Sindimetal-RS, Sergio Galera, relata que a falta de interesse do jovem em trabalhar na indústria fez com que houvesse uma carência de pessoas qualificadas para trabalhar nas empresas da região. Ele afirma que o projeto levou a uma mudança de percepção de alunos e professores, e que isso é fundamental para fomentar o interesse do estudante pela indústria. “O setor produtivo se atualizou bastante nos últimos anos. Temos muita tecnologia no chão de fábrica, processos e máquinas modernas. Isso fez com que o aluno, ao conhecer a realidade atual do setor industrial, mudasse a percepção ultrapassada sobre a indústria como um ambiente sujo, insalubre”, diz.
O relatório final, desenvolvido pelo Instituto de Formação de Professores do Sesi-RS, aponta que, após o projeto, 71% dos docentes passaram a considerar a integração de exemplos e desafios industriais como muito benéfica no processo de ensino e aprendizagem. Eles também começaram a entender a indústria como uma escolha profissional diversificada e com oportunidades estáveis (24%), além de oferecer crescimento profissional, ambientes inovadores e desafiadores para os jovens (16%).
Já em relação aos estudantes, 68,7% dos alunos relataram que mudaram alguns aspectos da sua visão sobre a indústria e estavam curiosos para aprender mais, enquanto 18,7% mudaram completamente sua visão e já pensam em se especializar na área. Além disso, 40,6% passaram a ver a indústria como um espaço cheio de possibilidades de atuação profissional. Por fim, uma expressiva maioria dos alunos (87,5%) manifestou o desejo de que o projeto Conectando Saberes tenha continuidade.
Caxias do Sul
A segunda edição aconteceu em parceria com o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs). O seminário final do Conectando Saberes ocorreu em 6 de dezembro, na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, e reuniu professores, alunos e representantes das empresas participantes para a apresentação final dos projetos desenvolvidos pelos estudantes, que foram estimulados a encontrar situações-problema dentro das indústrias. Dentre os principais temas desenvolvidos pelos jovens estão a sustentabilidade, inovação e responsabilidade social. A realização das atividades na Serra contou com a parceria da Escola do Amanhã, projeto do sindicato que busca atrair talentos para a indústria.
O presidente do Simecs e vice-presidente da FIERGS, Ubiratã Rezler, reforça o papel fundamental que a iniciativa tem na superação de antigos estigmas relacionados à indústria. “Temos pesquisas que indicam que o jovem não conhece a indústria. O que nós queremos fazer é quebrar isso, fazendo com que haja essa mudança de percepção”, diz. Rezler ainda destaca as diferentes oportunidades presentes no mercado de trabalho industrial. “Queremos mostrar para o jovem que a indústria é um excelente lugar para ele prosperar, que é um lugar organizado, seguro e que tem salários adequados. Trazendo o professor e o estudante para o ambiente de trabalho podemos mostrar as diferenças das indústrias de hoje em relação às fábricas em que os avós ou pais desses alunos trabalhavam”.
Ubiratã destaca a experiência do projeto na empresa a qual é diretor, a Rezler Chavetas e Usinados. “Dentro dessa metodologia, os professores foram conhecer a nossa empresa para entender de que maneira nós nos organizamos. Conheceram quais são as possíveis lacunas que temos e depois nós recebemos a visita dos alunos. Lá, esses jovens vivenciaram o setor e conheceram a empresa para trabalharem nos projetos que foram apresentados no Seminário Final”, relata. O projeto desenvolvido na Rezler foi feito pela turma 302 da E.E.E.M Érico Veríssimo, e o tema escolhido gira em torno da reorganização do layout físico da empresa, com o objetivo de facilitar a localização de materiais e otimizar o fluxo de trabalho.
Resultados positivos possibilitam novas edições do Conectando Saberes
“Aqui em Caxias nós temos uma longa história com as indústrias metalúrgicas. Os pais e os avós de muitos dos nossos alunos trabalharam nas fábricas em um momento em que a tecnologia não era tão avançada como é hoje. Com a visita, conhecendo a empresa mais de perto, eles perceberam que essa realidade mudou, que houve uma evolução muito grande e muito rápida do trabalho no setor industrial. A empresa que nós visitamos é tecnológica, climatizada, extremamente limpa, e isso surpreendeu muitos alunos”, afirma o professor Fabiano Voss.
Paola Basso, uma das alunas impactadas pelo projeto, afirmou que o Conectando Saberes mostrou a ela uma nova possiblidade de futuro profissional. “Depois de visitar a empresa e entender o trabalho que eles realizam, pretendo conhecer mais sobre as oportunidades profissionais dentro da indústria”, disse.
Para a gerente de Educação do Sesi-RS, Sônia Bier, as duas primeiras edições do Conectando Saberes mostraram para centenas de estudantes (460) e professores (44) que há um leque de possibilidades para os jovens dentro da indústria. “Observamos como resultado nas duas edições do projeto uma reconstrução da imagem que a comunidade escolar tem do ambiente de trabalho industrial. Além disso, conseguimos aproximar o jovem que está em meio a esse processo de escolha da trilha profissionalizante ao setor, fazendo com que ele enxergue a indústria como uma possibilidade de trabalho”, afirma. A ampliação do projeto para outras escolas, empresas e regiões está sendo discutida, assim como a integração de novas tecnologias e metodologias.


